Despretensiosa influência

Africa Brasil, de Jorge Ben, busca e alcança uma recuperação da ancestralidade africana ao mesmo tempo que se incorpora com os ritmos brasileiros e afroamericanos. É o momento de ressignificação como artista e de maior universalização de sua música.

Jorge Ben, nesse álbum, transforma seu violão em guitarra elétrica e incorpora as novas musicalidades que se instauravam num Brasil espelho dos Estados Unidos da déc de 70. Conta também com recursos sonoros específicos da matriz afro-brasileira, como o samba e o ijexá. Por essa mescla muito bem efetivada, seu álbum foi um sucesso no exterior e internacionalizou a música brasileira, levando até mesmo Rod Stuart a um plágio de Thaj Mahal.

Jorge Ben é muito simples, mas também muito sofisticado. Sofisticado na mistura eficaz de ritmos que se consagra nesse álbum. Sonoridades novas com a mistura de já existentes. Incorpora muito bem as características musicais de origem africana e do Brasil americanizado no qual vive, como explica Luciana de Oliveira em seu artigo África Brasil (1976): uma análise midiática do álbum de Jorge Ben Jor.

O artista também traz a temática da infância em seu álbum, especialmente na faixa Meus filhos, meu tesouro. Nela, com poucos versos vemos o retrato de uma infância dos anos 60/70, na qual impera a disparidade de gênero até na mentalidade das crianças. Para Arthur Miró e a maioria dos meninos, o sonho maior é ser jogador de futebol, enquanto para as meninas resta o sonho de crescer dona de casa.

Talvez não fosse a intenção de Jorge Ben gerar nenhuma reflexão quanto à influência das disparidades de gênero na mentalidade das crianças brasileiras, mas é o poder que, com um ouvido atento, essa pequena experiência antropológica descomprometida pode gerar.

É nessa linha que seguem todas as outras letras de Jorge Ben, não são músicas engajadas, mas são obras que se ouvidas com atenção têm pelo menos um poder informativo. Nesse álbum, mas não só, traz-se muito da cultura negra e da ancestralidade africana de maneira leve e reverenda.

O artista utiliza de seu alto astral musical pra reverendar grandes personalidades negras e para celebrar suas origens. Mesmo com seu otimismo, não são deixados de lado toda a trajetória da história afro-brasileira e seu passado escravocrata.

Em Africa Brasil, Jorge Ben parece cantar, numa primeira escuta desatenta, como quem não quer nada além de boas danças, mas as letras que acompanham seus ritmos dançantes levam para a boca do povo, nacional e internacional, personalidades como Chica da Silva e Zumbi dos Palmares, além da complexidade musical que aproxima o ouvinte de pelo menos três estilos ritmos distintos compostos em uma única composição.

Suporte: https://portalseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/download/5820/4362
http://www.unirio.br/ppgm/arquivos/dissertacoes/renato-rezende/at_download/file

https://www.hypeness.com.br/2019/03/o-que-acontece-quando-o-disco-africa-brasil-de-jorge-ben-e-tocado-para-criancas-em-zambia/

https://www.youtube.com/watch?v=t8BNYVKdlKc

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